No princípio, Deus criou o Céu e a terra. A terra estava sem forma e vazia… Deus disse ‘faça-se a luz’ e a luz foi feita (Gênesis 1)

Então, Deus modelou o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente. (Gênesis 2)

O sopro, a respiração, o som, a alma. Será que quando falamos de todos estes aspectos não estamos falando de um mesmo princípio? Então vamos começar pelo início.

Respiração – Do Latim ‘spiritu’; Do Grego ‘Pneuma’

Spiritu – Significado – Respiração, espírito, alma

Pneuma – Significado – Respiração, espírito, alma

Na medicina contemporânea “pneuma” é utilizada como prefixo para nomear doenças ligadas ao sistema respiratório, como ‘Pneumonia’. Será que as doenças respiratórias são doenças do espírito?

Parece haver uma antiga relação ente a respiração e a nossa alma. Se observarmos mitos da criação do mundo e do universo, nas mais diversas culturas do planeta, percebemos que o “criador de tudo” nestas antigas histórias geralmente utiliza como ferramenta para criar, o som, o sopro, a respiração ou o hálito.

No início era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele. (João 1:1-4)

Ao estudar a ciência da respiração, a primeira coisa que notamos é o fato de ela ser audível: é uma palavra em si, pois o que chamamos de palavra é só uma manifestação verbal da respiração produzida pela boca e pela língua. Mediante a habilidade da boca, a respiração se faz voz, daí entendemos que o estado primevo de uma palavra é a respiração. Se dissermos: ´No início era a respiração`, isso é o mesmo que dizer ´no início era o Verbo`. O primeiro sinal de vida de que se tem conhecimento é o som – e som também é palavra. (BERENDT, 1993, p. 47) 

Verbo = Som = Palavra = Respiração = Alma = Deus

Deus tem uma voz exterior e não teme usá-la. Mas, quando quer ser ouvido, quando o que tem a dizer é importante demais para que se perca, costuma falar em um sussurro pouco acima do limiar absoluto do ouvir […] O sussurro de Deus é suave, mas não existe nada mais poderoso. (Mark Batterson)

 

A voz do espírito é tão suave quanto a brisa do ocidente, tão suave que, a menos que você esteja vivendo em perfeita comunhão com Deus, jamais a ouvirá. (Oswald Chambers)

  

O Sussurro é um Sopro com  uma leve pitada de Som

Podemos dizer que o uso típico do sussurro é para fins de sigilo. Nenhuma outra forma de comunicação é mais íntima. Quando alguém fala sussurrando, você tem de chegar muito perto para ouvir. Inclinamo-nos na direção do sussurro, e é isso que Deus quer. O objetivo de ouvir a voz de Deus, não é só escutar-lhe a voz; é ter intimidade com ele. Por isso, ele fala em sussurro. Ele deseja estar tão próximo de nós quanto for divinamente possível! O Todo-poderoso poderia intimidar você com sua voz exterior, mas ele o corteja com um sussurro. E seu sussurro é o próprio sopro de vida. Não foi assim que Deus criou Adão? Ele soprou o pó e chamou-o Adão. Adão um dia foi um sussurro. Você também! (Mark Batterson)

 

Entre os fatos há o sussurro. É o sussurro o que me impressiona. (A hora da estrela – Clarisse Lispector)

 

A respiração de Deus parece ter dado origem ao mundo, mas a respiração também é a primeira ação que fazemos quando nascemos e logo se transforma em som através do choro do bebê. Ela também é a última ação que fazemos antes de morrer.

O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum – os animais, as árvores, o homem… O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres. (Trecho da Carta do Chefe Seattle)

 O Vento é a Respiração do Planeta

A respiração, o vento, conectam a vida animal e vegetal, conectam a terra ao céu: os animais precisam de oxigênio e liberam dióxido de carbono, enquanto as plantas precisam de dióxido de carbono e produzem oxigênio. Os ventos transportam nuvens distribuindo chuvas pelo planeta, equilibram as temperaturas, transportam sementes e incrivelmente os ventos levam a poeira do deserto do Saara por milhares de quilômetros até as florestas Amazônica, sua poeira é rica em fósforo atuando como fertilizante para a floresta tropical.

O som está implícito em todos os atos do ser humano. Mesmo imóvel, nosso corpo está repleto de sons: O sangue correndo pelas artérias, as batidas do coração, a digestão dos alimentos. Em cada partícula, em cada átomo, sons atestam que estamos vivos. Mesmo após a morte, o processo de desintegração da estrutura física é assinalado por dezenas de emanações sonoras. Desta forma, encontramos a origem na magia que envolve as especulações das pessoas sobre o som. Desde o primeiro ato de consciência da espécie, o aspecto que mais chamou a atenção foi o som, representado pelos Entes Sobrenaturais. Desde o vento, o mar e a chuva, o som foi o aspecto que mais instigou a mente humana. A necessidade de desvelar esses mistérios fez o homem treinar sua voz e seu corpo para reproduzir esses sons mágicos e, dessa forma, comunicar-se com os deuses através de cantos, mantras, assobios, instrumentos musicais e as mais diversas criações que o imaginário permitisse. Nesse ato evolucionista, quando se iniciaram as sociedades, o homem criou códigos para se comunicar. A partir da respiração, surgem as palavras, o som torna-se complexo e ganha significados.

Sempre o elemento acústico intervém na criação do mundo, seja na forma de uivo (crença dos antigos egípcios e de algumas tribos primitivas da África), de sopro, ou de sons vocais, manifestados nas mais diversas possibilidades sonoras.

Nas mitologias, o Deus criador apresenta-se sob as mais diferentes formas. Na África, Mulungu, deus criador dos Kamba, é uma flauta, da mesma forma que para os japoneses. Entre os Kato, Pomo e os Yuki, da Califórnia, o Deus é um grande ronco; Para os egípcios e chineses, o criador é um crocodilo, que bate no ventre com a própria cauda, ou seja, ele é um tambor. Este instrumento aparece também venerado na Ásia Menor, como o Deus Ea ou Enki. No Cáucaso, a terra foi separada do mar pelo sopro de dois tubos; no Japão, uma cana sagrada fez surgir o criador.

Os Upanishad (Escrituras sagradas do Hinduísmo), não se cansam de nos repetir que os sons OM ou AUM são sílabas “imortais e intrépidas” criadoras do mundo. Há uma coincidência entre os mitos de criação dos hindus e dos cristãos. O OM é o Verbo. Entre os chineses, os hindus e os cristãos, há uma unidade também: em ambas as culturas os mitos de criação surgem da emanação sonora. A manifestação terrena da “Origem Una” chinesa, do OM hindu e do Verbo cristão é similar, uma onda vibratória audível em nosso planeta. O livro dos Vedas diz: “No princípio era Brahma, com quem estava o Verbo. E o Verbo é Brahma”. Os tibetanos dizem: “No princípio era OM”. O Evangelho segundo São João diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Essas citações confirmam que Deus criou o universo por meio de uma emanação vibratória. As mais diversas culturas arcaicas utilizam variantes da sílaba OM para expressar essa emanação vibratória. “O Som Cósmico, impregnado da essência da Consciência, tem sido variadamente conhecido por AUM, AMN, AMEN, AMEEN, OMEN, OMON, I AM, HU, YAHUVAH”.

Acreditavam os sumérios que os deuses haviam criado o universo com suas “poderosas ordens”. De maneira semelhante, a vida e a matéria foram criadas através de um verbo ou verbos sagrados pronunciados pelo primeiro deus ou deuses, nos mitos dos hebreus, celtas, chineses, egípcios, índios americanos e dos maia-quichuas […] A mesma ideia volta a aparecer no conceito pitagórico da Harmonia das Esferas, conceito esse que exerceu considerável influência nas primitivas eras cristã e medieval. (Ibidem, p. 224)

Marius Schneider cita que, na mitologia asteca, o criador era imóvel e inaudível. Cansado, arremessou a montanha ao longe e rompeu seu silêncio para criar o mundo e os seres humanos. “Aí ele cantou: Faça-se o mundo! E fez-se o mundo” Na religião cristã, o “Livro do Gênese” mostra que, a cada ordem proferida por Deus, é criado um elemento do universo. Ou seja, o elemento é criado pela emanação vibratória da ordem dada, pela ação do som.

Uma lenda entre os tibetanos diz que o ato da criação surgiu do vento, que, ao soar, se transformava em formas diversas.

No princípio, era o vento. Com sua agitação ele criou as gjatams, as formas primevas e o primeiro alicerce do mundo. O vento soava, e enquanto som, formava a matéria. O soar dessas primeiras gjatams desenvolveu formas novas que, em virtude de seus sons, por sua vez criaram outras formas[…] (Ibidem, p. 221)

Segundo os mitos cosmogônicos, sob as mais diversas formas e metamorfoses ou utilizando instrumentos de sopro ou percussão, o Deus criador e seus deuses assistentes utilizaram o som para realizar o ato da criação. A partir da respiração, elemento essencial à vida, interrompia-se a estagnação das águas, a escuridão da noite ou a contemplação, para que todas as formas e seres vivos fossem criados por meio do som. Seja qual for a forma utilizada ou instrumento transformador, o ato da criação sempre é descrito como um fenômeno acústico. Até os dias de hoje, entre os aborígenes e seitas mediúnicas, há a crença de que o contato com os deuses é realizado por meio de palavras mágicas, que dão aos xamãs, aos pajés e aos médiuns o poder de cura, e a habilidade de atingir estados alterados de consciência. Segundo os hindus, a sílaba criacionista OM é a essência do sáman (canto) e do fôlego. O OM é o mantra primevo, desta sílaba surgiu progressivamente toda a matéria do mundo.

Para eles, é essencial que essa sílaba seja entoada constantemente para que haja equilíbrio entre essas forças e que, consequentemente, a própria vida na terra e todos os seres que estão sobre ela permaneçam em equilíbrio. Portanto, ao manterem vivos na memória os mitos cosmogônicos, através dos cantos e mantras, as diversas seitas e culturas mântricas renovam o consumo simbólico dessas culturas arcaicas, os mantendo vivos e trazendo novos significados.

No Taoísmo, o sopro é chamado de Qi, está ligado à vitalidade, é a força criadora e conservadora da vida. A linguagem escrita na China é representada por símbolos, ou ideogramas. O significado etimológico do ideograma Qi na sua forma tradicional mais conhecida é uma imagem do “vapor subindo do arroz enquanto este é cozido”. O Qi é frequentemente, traduzido como “ar” ou “respiração”.

A maior parte dos ensinamentos de alquimia chinesa, reconhecem que o Qi é um tipo de energia metafísica que circunda, permeia e existe na natureza e em todos os seres: ou seja, o Qi é o “sopro de energia universal” existente em tudo e em todos.

O espaço intermediário entre o céu e a terra é preenchido por um sopro, o Qi, no qual vive o homem, assim como um peixe vive na água. Esta mesma área intermediária ou sutil é, na Índia, chamada de Vayu, (vento ou sopro vital, o Deus do vento). Vayu é o fio (sutra) que liga todos os mundos entre si.

A estrutura do microcosmo é idêntica à do macrocosmo: Assim como o universo é conectado através do Vayu, homem é conectado pelos seus sopros, pranas,… que regem as funções vitais e não só o ritmo respiratório.  (CHEVALIER, 2009. p.850)

 

Ajayô – “é uma expressão africana que significa sopro de saudação a Oxalá. É frequentemente falada com o sentido semelhante à expressão “se Deus quiser” ou “tomara” e é usada para fazer uma saudação a alguém.”

Cosmogonia Yorubás

Como em toda cultura, a cosmogonia yorubá também têm sua teoria sobre a criação do mundo, dos seres e da atuação das divindades neste episódio. O grande Deus da criação é Olorun, o Deus supremo. No momento anterior à criação, tudo que existia era uma massa de ar infinita. Tal massa era o próprio Olorun. Ao mover-se lentamente e ao respirar, Olorun deu origem à água. Da relação entre a água e o ar, criou o Grande Deus Branco, Oxalá, divindade que representa os aspectos da energia masculina. Da relação entre o ar e a terra, Olorun deu origem Odudua, divindade que representa os aspectos da energia feminina. No movimento constante de água e ar, parte desta matéria solidifica-se dando origem a um monte de terra avermelhada, a qual Olorun soprou seu hálito e também o ar divino para que nascesse Exu, a primeira forma viva e individualizada do universo. Odudua criou o mundo e Oxalá criou o homem, a mulher e todos os seres. Nesta época, o céu, não era separado da terra, e homens e deuses transitavam livremente entre os dois mundos. Mas um camponês descumpriu uma regra imposta por Oxalá e este ficou irado e naquele momento separou os dois mundo, criando uma nova relação entre homens e divindades. Entre o céu e a terra formou-se um vão, e este vão foi preenchido pelo sopro de Olorun, dando origem à atmosfera.

Cosmogonia Guarani – O Sopro de Tupã

No mito de criação guarani, no princípio o deus Tupã morava no vazio, numa escuridão sem fim. Primeiro, Tupã criou o céu e as estrelas, onde fez sua morada e abaixo criou as águas. Depois, Tupã desceu lá de cima, em grande redemoinho. Logo que Tupã tocou as águas, o sol surgiu no arco do céu. Quando o sol chegou ao ponto mais alto, seu calor rachou a pele de Tupã. E finalmente, quando o sol desapareceu do outro lado do céu, a pele de Tupã caiu do corpo dele, se estendeu sobre as águas e formou as terras. No dia seguinte, o sol apareceu no céu e percebeu a mudança. O sol chegou novamente ao ponto mais alto e Tupã pegou um pouco de barro, amassou e moldou o primeiro Homem. Soprou-lhe o nariz e lhe deu vida. O Homem cresceu e ficou grande como Tupã, mas não falava. O grande deus soprou em sua boca e começou a falar. Então, Tupã soprou na orelha esquerda a inteligência e na orelha direita a sabedoria. Na cabeça do Homem, Tupã desenhou os raios e trovões sagrados que são os pensamentos. No corpo do Homem, Tupã colocou as águas das emoções e dos desejos que se movimentam para criar ou para destruir. Por fim, Tupã deu ao Homem o poder de escolher entre criar e destruir. Terminada a criação, Tupã voltou para o céu montado em seu redemoinho.

Entre os povos indígenas de todo o continente americano, o sopro tem uma forte representatividade nas mais diversas atividades do cotidiano. Mas principalmente o sopro é usado em cerimonias sagradas, em trabalhos de proteção e benzimento e pode ser usado inclusive como remédio para curar desequilíbrios, relaxar, além de proporcionar viagens através de diferentes estados de consciência.

 

O Rapé

O rapé é um pó feito de ervas e tabaco triturados, utilizado pelos povos indígenas, principalmente os brasileiros. Utilizado para tratar desequilíbrios, relaxar e também é usado em cerimônias como uma forma de oração que invoca as forças da natureza, a bênção dos animais da floresta e o poder das plantas medicinais para nos curar e dar força, é importante que se use essa substância em um ambiente respeitoso e focado na cura. O rapé é conhecido como uma medicina do sopro, pois sua aplicação é realizada através do sopro desta medicina no interior das narinas. Esta aplicação é feita por um instrumento chamado Kuripe ou Tepi, feito com pequenos pedaços de bambu ou ossos, podendo assim ser feita uma auto aplicação ou ser aplicado de uma pessoa para outras. Parte da potência deste ritual vem do próprio sopro e do potencial daquele que aplica. Geralmente, o encarregado de realizar a aplicação, invoca por meio do canto e rezo, a energia de um espírito do reino animal para abençoar aquele sopro, de modo que a energia soprada recebe, além do remédio guardado no pó, o poder de tal espírito apto a trazer o equilíbrio e harmonia necessários a cura daquele que recebe.

 

Entre os povos Hupd’ah, povos nômades ou seminômades do Alto Rio negro, que habitam regiões entre Brasil e Colômbia, as práticas Xamânicas ou de cura estão sempre relacionadas ao sopro. Os Benzedores ou Xamãs dominam essa ferramenta de comunicação distinta da linguagem cotidiana, que é o sopro e o murmúrio. Durante a prática, são realizados encantamentos, e o Xamã passeia por diferentes dimensões através da sua “pessoa-sopro” (Espírito), para buscar a harmonia do espírito da pessoa que está sendo curada.

 

O Chanumpa

O cachimbo sagrado dos povos Lakota (Chanumpa) da américa do norte, desempenha um papel fundamental na vida espiritual e cultural desse povo. O simbolismo e os rituais do cachimbo sagrado fornecem as bases da espiritualidade na rica tradição Lakota. No entanto, esta cerimônia é inseparável da preparação moral e da reflexão espiritual de cada indivíduo, tornando o cachimbo um importante símbolo presente durante toda a vida de um nativo desta nação.

 

As Flautas

As flautas são instrumentos comuns entre os povos nativos de toda a américa, sendo vistas como símbolo de fertilidade. Da América do Norte, com sua flauta frontal de apito, até os povos da américa do sul com suas enormes flautas harmônicas, sem furos e os povos andinos com a flauta Quena, flautas de cerâmica e flautas Pan. A música vinda do sopro está intimamente relacionada a esses povos e suas cerimônias sagradas.

A MÚSICA DA RESPIRAÇÃO

O mundo em que vivemos é composto de dualidades. Para o taoísmo essas dualidades são chamadas de Yin e Yang, que pode ser entendida também como feminino e masculino, como negativo e positivo. A respiração também é dual, visto que em um momento inspiramos e em outro expiramos. Este mesmo ritmo dual está presente na batida do coração. Mas no mundo que vivemos hoje, a sociedade vem desaprendendo a respirar. São tantas atividades, tantas interferências visuais, tanto estresse, que todos vivem sem tempo, e sua respiração parece oscilar em rápidos intervalos de respirações peitorais. A sociedade desaprendeu a respirar com calma, enchendo calmamente o abdômen e recolhendo o mesmo em ritmo igualmente lento durante a expiração.

Para os Yogues, a respiração é a própria vida, e quanto mais lenta for sua respiração, mais tempo viverá. Quando entendemos que nosso corpo está constantemente produzindo música, e observamos o rítmico desta música, começamos a entender nosso estado de espírito. Em toda a cultura Hindu e Budista, a respiração é um dos cuidados mais importantes, pois quando mantemos nossa respiração calma, acalmamos todo o ritmo do corpo e a sua música corporal entra em harmonia. É por isso que quando vemos uma pessoa agitada ou chateada é comum falar “respire fundo”. Pois uma respiração profunda muda instantaneamente seu estado de espírito.

A nossa respiração é uma ferramenta extremamente poderosa, mas podemos agregar novos ‘poderes’ a ela, quando a utilizamos de forma consciente. A voz é a representação do nosso sopro de vida, ela é uma das formas de agregar poderes a respiração. E esses poderes podem ser agregados de diferentes formas:

  • O fôlego, é a respiração em sí;
  • O sopro é uma respiração impulsionada e de maior potência. (Pode ser usado também através de instrumentos musicais e outras ferramentas)
  • O sopro saindo sobre a forma de som, esta é a forma mais potente de se usar sua respiração.

Os instrumentos de sopro então presentes em todas as culturas antigas do mundo. Flautas com 4, 5, 8 até sem furos; Dungchen, os trompetes gigantes tocados pelos monges no alto dos templos do Tibet; A poderosa flauta transversa dos Hindus, o Bansuri ou Venu; Ocarinas de cerâmica com milhares de anos encontradas em sítios arqueológicos da China. Shakuhachi a flauta Japonesa feita da raiz do bambu; O Didgeridoo, instrumento aborígene australiano do qual o som é gerado pela vibração dos lábios.

Os cantos, mantras, e instrumentos musicais que exigem um intenso exercício respiratório são importantes ferramentas para auxiliar no desenvolvimento da saúde mental, corporal, emocional e espiritual. Para os Hindus o canto é a arte mais poderosa que existe e em sua cultura, o canto vai além da técnica, é uma experiência de encontrar seu próprio som e se afinar com ele. Em cerimônias sagradas de todos os povos antigos, os cantos e instrumentos de sopro estão presentes. Desta forma não é difícil compreender porque os povos asiáticos apresentam um antigo conhecimento dos poderes da respiração, do sopro, do sussurro e do canto. Suas técnicas vão além das regras pré-definidas, mas as mais preciosas regra são – seguir a intuição e realizar a ciência da respiração.

 

Referências:

2 pensamentos sobre “O poder do Sopro

  1. Nathan diz:

    What a beautiful post ! Thank you so much for sharing this wisdom and research with us. 🙂 I intend to come back to this numerous times and reread it to digest and process this on a deeper level.

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